quarta-feira, 9 de julho de 2014

O desfile - texto de Ademar Bispo

Dia 24 de junho:- Aniversário de Mirandópolis

O Desfile
Seis horas da manhã, a cidade é acordada com explosões parecidas a tiros de morteiro. Em algum lugar alguém executa o toque da Alvorada. O som vem serpenteando pelas ruas, penetrando nas casas, sussurrando em nossos ouvidos que é hora de levantar. O sol, timidamente, surge no horizonte, anunciando um novo dia, o dia do aniversário da cidade Labor, aniversário de Mirandópolis.
Já se vê pelas ruas, estudantes, com seus uniformes passados e engomados, dirigindo-se para seus estabelecimentos de ensino, de onde sairão para o desfile ansiosamente aguardado. No CENE Dª Noêmia Dias Perotti, os inspetores de alunos, seu Jorge Cury e dona Terezinha, auxiliados pelos serventes dona Severina e seu Silvio Marchi, tentam botar ordem e organizar os pelotões de alunos e alunas. As meninas primeiro, depois os meninos, por ordem de altura. Os professores de Educação Física dão sua contribuição, passando as listas de presença. O pessoal da fanfarra, com seu uniforme de gala, afina seus instrumentos: são caixas, tambores zabumbas e cornetas.
Numa destas comemorações o professor Kazuo ficou responsável pela fanfarra. Aos alunos que participassem dela ele prometeu dar nota dez e dispensar da prova bimestral. Eu, surdo-mudo em música, pendurado em matemática, precisando tanto daquele deizinho candidatei-me. Deram-me os pratos e instruíram-me: após o repicar das caixas...tatarata, você bate os pratos...blein, tatarata...blein, tatarata...braunnnn, fui dispensado no segundo ensaio.
Todas as escolas e demais participantes do desfile se reuniam no pátio da igreja. Não havia palanque e as autoridades do município faziam seus discursos da escadaria da igreja e, em seguida, o padre Epifânio rezava a missa. Era demorado, cansativo...nos escorávamos numa perna, depois na outra...agachávamos...éramos repreendidos pelos inspetores de aluno.
Finalmente iniciava-se o desfile. A Escola do Comércio e o Ginásio revezavam-se na abertura do desfile e no encerramento. As vezes o encerramento era feito pelo Tiro de Guerra de alguma cidade vizinha, Andradina ou Valparaiso. As balizas iam á frente das escolas, fazendo seus malabarismos. Os porta-bandeiras levavam as bandeiras do Brasil, de São Paulo e do Municipio. À frente da fanfarra da Escola do Comércio tremulava o estandarte azul e branco com as palavras GLERCA, do Ginásio, vinha o estandarte vermelho e preto escrito Grêmio XV de Novembro e trazendo ainda a figura estilizada de um galo idealizada pelo professor Valter Sperandio.
O Grupo Escolar Professor “Hélio Faria” se fazia presente, tendo como destaque sua pequena fanfarra comandada pelos professores Paulo Turri, Gamaliel e José Caleme. O Grupo Escolar “Dr. Edgar R da Costa” tinha os escoteiros orientados pelo seu Luiz, o Luiz do Grupo, o Luiz Peru, disciplina militar....direiiiiita, voooolver, esqueeeerda, vooooolver....ordináaaario, marche. Foi uma pessoa incompreendida, fez amigos e inimigos devido ao seu gênio belicoso, era prestativo com os amigos e parentes, tendo freqüentado apenas o primeiro ano primário, consertava ferros elétricos, chuveiros, enceradeiras e liquidificadores. Fazia instalações elétricas e hidráulicas. Era apenas Porteiro do Dr. Edgar, mas vestia a “camisa da escola”. Era meu tio e eu o amava como minhas filhas também o amavam.
As escolas apresentavam carros alegóricos homenageando figuras históricas, a seleção brasileira de futebol e o fundador da cidade, senhor Manoel Alves de Athaide. Associações como o Rotary, Lions e outros clubes de serviços e entidades prestavam suas homenagens. A colônia japonesa sempre apresentava algum carro destacando a agricultura da cidade. Um carro muito elogiado era aquele que trazia a rainha da cidade e suas princesas. Todos os anos era eleita a rainha e as princesas e tínhamos o baile de coroação da rainha no CAM. Lembro-me apenas das rainhas Célia Zuin e Sonia Zacarin. A população de Mirandópolis, quase que na sua totalidade, saia à rua para assistir ao desfile.
Quando achávamos que o desfile tinha terminado, com os participantes se dispersando no final da Avenida Rafael Pereira....eis que surge um tumulto, a multidão acompanhando um carro retardatário!!!!!!!É o Fernando Miron, dirigindo uma caminhonete de carroceria de madeira, preta, da funerária, tendo, no alto de uma escada, usada pelos juízes de vôlei,....o Galego, vestido de mulher, com a faixa de Miss Ribeirão Claro.
À tarde haveria show de paraquedistas e futebol.

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